Ser jovem é ser um fardo
Desde criança que me lembro de ouvir a afirmação de que Viana do Castelo é uma cidade linda, com imenso potencial, mas muito mal aproveitada e “desocupada”.
Como uma jovem de 20 anos, uma das coisas que mais me chamam à atenção na minha capital de distrito, é a falta de investimento nos jovens.
Viana é, de facto, um local com vistas maravilhosas e gente alegre, mas daqui a umas gerações, isso já não será o suficiente para manter o espírito minhoto vivo. A tradição é um elemento muito presente na nossa cultura, o honrar o antigamente é uma das coisas mais importantes para os vianenses. Contudo, sinto falta de uma certa inovação neste modo de viver. É bom manter jovens por perto para honrar a tradição, mas também é necessário espaço para inovar, reinventar e dar oportunidade às novas gerações.
Já nem falo de atrair jovens de fora, mas pelo menos de tentar manter os de cá.
Estudei Artes Visuais na Escola Secundária de Santa Maria Maior. Fui das poucas pessoas que ficaram por cá a dar continuidade aos estudos. Não nos foi encorajado ficar e dar oportunidade ao distrito, pelo contrário, fala-se sempre nas grandes cidades e mesmo em outros países. E assim foi, a maior parte dos meus colegas, mesmo de outras turmas e cursos, continua a procurar ir para fora, se assim tiverem esse privilégio. Dizer que fiquei em Viana para a licenciatura, por vezes, até pode ser embaraçoso. A pergunta consequente é sempre “Mas com o teu potencial achas mesmo que devias ter ficado aqui?”.
Realmente, de momento, só me consigo ver a viver e trabalhar fora. Mesmo os meus colegas de licenciatura de outras cidades não pensam ficar aqui. Não devia ser assim. Não devíamos ser “obrigados” a sair e a procurar estudos ou emprego fora. Olhamos em redor e pensamos “este sítio não é para mim”. A minha geração tem tanto a oferecer ao Alto Minho, existem tantos de nós que querem ficar e dar continuidade ao que já foi construído, mas não nos dão essa oportunidade.
Viana, tal como o resto do país e da Europa, estão cada vez mais envelhecidos, havendo cada vez menor natalidade. É importante cuidar desta população mais velha, mas deve existir cuidado em reforçar o apoio à juventude. A capital de distrito está cada vez mais programada para a reforma. Não se pode fazer barulho, não se pode incomodar, só podemos pensar e falar baixinho. As festas, só de rancho e bombos. Penso que já cansa este modo de viver, desta cidade que fica com ruas vazias a partir das 21 horas, onde não há espaços para os jovens irem. Deve existir espaços onde se possam discutir ideias, rir, pensar, divertir, enfim, apenas ser jovem! Parece que as pessoas de 20 anos são um fardo para a cidade, que estamos aqui a mais e que devíamos procurar outro lugar.
Também a cultura tem de ser reanimada para alcançar a juventude. Uma cultura para todos, que alcance todo o tipo de gostos e faixas etárias, não uma cultura programada sempre para o mesmo público alvo. É importante pôr as pessoas a pensar mais, sair da caixa, acolher a novidade e deixar de apontar o dedo a novas ideias ou formas de pensar. Ser diferente é visto como mau, os jovens não sentem liberdade para se expressarem cá. Eu quero mesmo que isso mude, mas um povo que não lê, não vê, não pensa e não tem espírito crítico, está muito longe de alcançar esse cenário. Sem isto, é impossível imaginar uma Viana jovem, apenas uma Viana em decadência. Não podemos continuar a viver dentro de uma bolha.
Em suma, há muito trabalho para fazer em relação à juventude do distrito. Precisamos criar espaços de convívio, espaços seguros de partilha de ideias e ócio. É importante que existam incentivos para que estes espaços se concretizem — menciono aqui o projeto "Rua Malandra", dando oportunidade para a sua existência contínua, progresso e crescimento, não apenas uma oportunidade única e limitada. Viana precisa de criar emprego, oportunidade e movimento para as novas gerações. É urgente que haja mais oferta apelativa e chamativa para reanimar a cidade. Exige-se um investimento maior na oferta cultural. De momento, além de ser pouca, é continuamente direcionada para os mesmos públicos. O programa cultural deve ser amplo, tendo uma oferta de qualidade para vários públicos-alvo. Esta qualidade permitirá motivar jovens que, de outra forma, procuram experiências culturais fora do distrito ou não se aproximam da cultura, a descobri-las na nossa cidade. Tendo em conta o último ponto, é prioritário que se crie uma estrutura que acolha e promova criadores, coletivos e projetos culturais. O trabalho tem de ser contínuo, reforço. Devem ouvir esses criadores e dar espaço aos jovens para falarem e darem a conhecer as suas necessidades enquanto núcleo.
Anseio por um dia em que possa dizer que vejo futuro em Viana do Castelo. Uma Viana que tenha oportunidade, emprego, cultura, mas principalmente vida!